Cordel
O texto apresenta a literatura de cordel como parte de um conjunto mais amplo de impressos de larga...
Publicado em 1719, Robinson Crusoé, de Daniel Defoe (1660-1731), constitui-se em um dos grandes marcos da história da literatura ocidental, sendo apontado pela crítica especializada como o primeiro romance moderno escrito em língua inglesa. Seu êxito editorial foi imediato, explicitado pelas diversas impressões, traduções e apropriações que recebeu já no século XVIII e sua narrativa permanece viva no imaginário de sucessivas gerações nos últimos três séculos. Para além dessas constatações, Robinson Crusoé se apresenta como uma síntese de determinados valores emergentes à época de sua escrita e também como uma trama emblemática de dimensão transatlântica.
Para escrever Robinson Crusoé, Daniel Defoe se baseou na história real do marinheiro escocês, Alexander Selkirk (1676-1721). Ele foi desembarcado, como castigo, a mando do capitão de um navio bucaneiro, na ilha Más a Tierra (hoje Ilha Robinson Crusoe), no arquipélago Juan Fernández, na costa do Chile. Isso ocorreu em 1704 e Selkirk lá viveu completamente sozinho por quatro anos até ser resgatado por outro navio britânico que o levou de volta à Europa.
Proveniente de uma família de mercadores presbiterianos, Defoe parecia destinado ao ramo do comércio e das finanças. Porém, os negócios não prosperaram e ele afundou-se em dívidas. Por essa razão, foi preso pela primeira vez em 1692. Viajou pela Grã-Bretanha e pela Europa ocidental sempre em função de atividades comerciais que não frutificaram. Simultaneamente, como publicista, escreveu panfletos que discutiam questões de ordem política e econômica. Em alguns, defendeu posições próximas aos tories, mas em muitos outros escreveu em favor dos whigs, advogando o novo sistema de crédito público, tema importante no início do século XVIII, na Inglaterra. Simpatizante da Revolução de 1688, escreveu mais tarde, em 1697, um poema em defesa do rei Guilherme III, The true-born Englishman. Sua fama de rebelde e inconstante contribuiu para uma nova prisão, em 1703, desta vez, acusado de ter escrito um panfleto desrespeitoso à Igreja Anglicana, The shortest way with the Dissenters. Foi exposto no pelourinho por três dias e enviado em seguida para a prisão.
Já maduro, quase aos sessenta anos, escreveu Robinson Crusoé, seu primeiro romance, que lhe deu notoriedade, mas não resolveu seus problemas financeiros. Produziu, entre 1719 e 1724, outros sete romances, o mais lembrado deles, Moll Flanders (1722), que narra a história de uma prostituta sem escrúpulos. Daniel Defoe morreu em 1731, ainda endividado.
A história de Robinson Crusoé não interessou a diversos editores para os quais Defoe mostrou os originais. Finalmente, em maio de 1719, William Taylor decidiu-se por sua publicação. O sucesso foi tão inesperado quanto impressionante, havendo seis impressões em apenas quatro meses, num total aproximado de 80.000 exemplares vendidos. Um bom termômetro para medir o êxito do texto está na proliferação de edições piratas do livro, assim como na iniciativa precoce de publicações resumidas, como a do editor T. Cox que, em julho de 1719, já publicava uma edição mais barata, com 100 páginas a menos. Também as imitações se constituem em outra manifestação da popularidade da obra de Defoe; no mesmo ano de 1719, publicaram-se as Memórias autênticas do Capitão Falconer, emulação da história de Robinson.
O impacto e as transformações vivenciadas por Robinson Crusoé já no século XVIII eram capazes de anunciar o êxito, de certa forma ambíguo, que a criação de Daniel Defoe encontraria em sua trajetória. Por um lado, por ser dotada de uma trama bastante complexa, repleta de discussões de ordem econômica, moral e filosófica, encontrou seu lugar no cânone literário ocidental como uma das obras fundadoras do romance moderno. Por outro, graças ao caráter de aventura subjacente à sua história e a um posterior cunho pedagógico atribuído a ela, foi tendo sua narrativa diluída a ponto de se transformar em um livro voltado para o público infanto-juvenil. Ao ser colocado na estante dedicada às crianças e jovens, Robinson Crusoé foi sendo, contudo, despido das significações e implicações presentes no texto original.
Todos conhecem a história do náufrago Robinson Crusoé, que viveu por 28 anos numa ilha deserta, desenvolvendo suas potencialidades individuais em confronto com a natureza e encontrando os meios para sobreviver a partir de suas habilidades e conhecimentos. Como afirma James Joyce, de náufrago na ilha, com uma faca e um cachimbo no bolso, Robinson se transforma em "arquiteto, carpinteiro, afiador de faca, astrônomo, padeiro, construtor de navios, oleiro, agricultor, alfaiate, fazedor de guarda-chuvas e clérigo"1.
Dessa forma, pode-se concordar com Ian Watt2, quando este afirma que Robinson Crusoé pode ser lido como uma ode ao individualismo burguês alicerçado sobre uma matriz calvinista que busca explicitar um modelo otimista das possibilidades do domínio do homem sobre a natureza por meio do conhecimento racional. Robinson planta, cria cabras, faz uma casa, levanta uma fortaleza para se defender de possíveis inimigos. Com exceção de raros momentos, mantém a lucidez, tomando a razão como sua bússola. A religião lhe é um conforto, lê a Bíblia, reza, busca explicações para os desígnios de Deus. Vive num pequeno mundo organizado, com leis, ordem e uma refletida divisão do tempo.
Importante também sublinhar que essa nova perspectiva individualista, burguesa e protestante se insere no quadro mais amplo das transformações proporcionadas pelo capitalismo comercial durante a Idade Moderna. Em outras palavras, Robinson Crusoé não se restringe ao paradigma do aventureiro empreendedor, trabalhador diligente e temente a Deus capaz de construir um mundo novo ao se perder em uma ilha deserta. A história do náufrago inglês adquire também um duplo significado ao ser concebida por Daniel Defoe naquele momento histórico específico.
Em primeiro lugar, Robinson se configura como uma espécie de representante de um desígnio colonialista europeu, capaz de nomear, organizar, governar e vencer a natureza selvagem, tornando-se, por suas supostas capacidades morais, amo e senhor de terras inóspitas e de homens bárbaros. Defoe constrói um protagonista aventureiro, trabalhador e religioso, protótipo do indivíduo ocidental e civilizador, aqui particularmente anglo-saxão e protestante, cuja missão seria redimir regiões e povos extra-europeus de seu atraso por meio dos valores da empresa capitalista.
Em segundo lugar, a trajetória de Robinson Crusoé se apresenta também como produto das possibilidades abertas pela circulação de pessoas, ideias e mercadorias, proporcionadas pela navegação marítima e pelo comércio intercontinental existente à época da escrita do romance. A trajetória do aventureiro britânico somente pode ser compreendida em um contexto de mobilidade resultante das travessias interoceânicas cada vez mais comuns na Idade Moderna. Entendido assim, mais que um europeu em terras americanas, Robinson Crusoé pode ser classificado, a partir de uma leitura atenta de seu percurso, como um personagem essencialmente transatlântico.
Analisado por esse prisma, Crusoé representaria, a partir de um olhar europeu, a ascensão de um ideal de mobilidade e circulação, não somente física, mas também social, que se contraporia a uma concepção mais estática e conservadora, representada no romance por seus próprios pais. Logo no início da narrativa, Robinson ouve, por exemplo, de seu progenitor, um integrante das camadas médias da sociedade, que buscava dissuadi-lo de seus projetos de aventura, sobre as agruras vivenciadas pelos setores "superiores" e "inferiores" da escala social e sobre as vantagens de pertencer à sua própria classe. Estabelecer-se nesse ponto intermediário significaria para o protagonista do romance uma vida tranquila e sem percalços, mas, ao mesmo tempo, monótona e vazia de objetivos.
As viagens e as possibilidades abertas pela navegação atuariam como um signo dos novos tempos, prometendo não somente mobilidade e uma vida menos estática, mas a interligação entre a Europa, a África e a América por meio das rotas atlânticas. Ao decidir se aventurar pelos mares, Robinson Crusoé evidencia esse quadro de maneira extremamente complexa por meio de disputas culturais e religiosas, interesses econômicos e práticas essencialmente colonialistas. Tais facetas existentes no romance de Daniel Defoe foram se dissipando em meio às adaptações e simplificações editoriais sofridas pela narrativa recorrentemente. A história do marujo inglês não se resume, portanto, ao seu naufrágio no Caribe, mas se constitui como uma imbricada teia que deixava emergir relações econômicas e sociais e práticas culturais de viés transatlântico existentes na Época Moderna.
Veja-se, por exemplo, que em uma de suas primeiras viagens, Robinson, almejando tornar-se um mercador na Guiné, possivelmente de africanos escravizados, é capturado por um pirata mouro, transformando-se em cativo dos muçulmanos no Marrocos. Após fugir, ajudado por um garoto islâmico, Xuri, beira as costas da África subsaariana, deparando-se com uma embarcação portuguesa dedicada possivelmente ao comércio negreiro. Resgatado por essa nau lusitana, torna-se amigo do capitão e é conduzido em direção ao Brasil, mais precisamente às proximidades de Salvador. No nordeste brasileiro, torna-se proprietário de terras e plantador respectivamente de víveres, de tabaco e, finalmente, de cana-de-açúcar. Não satisfeito, entretanto, com a relativa estabilidade de sua vida como senhor de engenho na Bahia, decide seguir em uma nova aventura marítima relacionada ao comércio com a África, buscando conseguir escravos para a lavoura. Nessa empreitada, Robinson Crusoé é vítima do célebre naufrágio no qual ele será o único sobrevivente e que pautará todo o restante do romance.
Pode-se dizer, em linhas gerais, que toda essa primeira parte da narrativa de Robinson Crusoé constitui-se como signo de um mundo em movimento, marcado pela circulação transatlântica de pessoas, ideias e mercadorias, guiado tanto pelo desejo de conhecimento do mundo pelos europeus, como pelos interesses econômicos promovidos pelo avanço do comércio capitalista do qual tomavam parte, assimetricamente, a Europa, a América e a África.
É importante frisar que o naufrágio que marca a inflexão na narrativa do romance teria ocorrido depois de a embarcação ter seguido em direção ao norte, após passar pela desembocadura do rio Orenoco, fazendo Robinson acreditar que estivesse na altura da ilha de Trinidad, no mar do Caribe. Consumado o acidente, inicia-se um segundo movimento na trama, quando o protagonista se vê sozinho diante da natureza tropical. Isolado dos signos da "civilização europeia", atua como o colonizador arquetípico, particularmente em seu modelo anglo-saxão e protestante, levando uma vida solitária, ascética, completamente voltada ao trabalho, à transformação do meio natural e à glorificação da ação da Providência Divina.
Apenas nos últimos anos de sua vida na ilha, em uma espécie de terceira parte do romance, Robinson Crusoé começa novamente a interagir com outros seres humanos, por meio do ingresso na narrativa de canibais caribenhos e navegantes espanhóis e ingleses. Nesse ponto, além do marcante ingresso na trama do emblemático personagem Sexta-feira, o amigo "selvagem" e submisso do náufrago europeu, pode-se dizer que uma série de eventos faz com que o romance convirja para a elaboração de uma espécie de microcosmo de um mundo colonial idealizado, estruturado e hierarquizado a partir de uma lógica anglo-saxônica. Estabelecida a complexa construção do indivíduo burguês, disciplinado, ascético e religioso, elemento narrativo central da segunda parte do texto de Defoe, Robinson Crusoé evidencia-se, nos anos finais de sua permanência no Caribe, como senhor de si e de seu mundo.
Passa a se referir, por exemplo, aos elementos que o cercam por meio de pronomes possessivos: a cabana fortificada que construiu torna-se o "seu castelo"; a terra que o abrigou após o naufrágio é "sua ilha"; e, obviamente, o indígena que salvou dos canibais e a quem tomou como criado é o "seu Sexta-feira". Aqueles que passam a habitar seus domínios tornam-se necessariamente "seus súditos" e, em determinado episódio, é tratado pelo capitão inglês, posteriormente responsável por seu retorno à Grã-Bretanha, como "governador" daquele espaço insular. Da mesma forma, nessas páginas do romance, elaboram-se discussões sobre como agir diante dos canibais, como civilizar as populações selvagens e como converter os gentios à "verdadeira" Providência Divina.
A quarta e última parte do romance de Daniel Defoe consiste no retorno de Robinson à Europa. Na Inglaterra, sem rastros de sua família e sem o pecúlio que havia deixado sob os cuidados de uma viúva inglesa, decide partir para Lisboa, com o objetivo de reencontrar o capitão português que o levara ao Brasil décadas antes. Em Portugal, é informado que sua plantation na Bahia havia prosperado, propiciando-lhe rendimentos e transformando-o em um homem rico. Ao fim da narrativa, Crusoé, enfadado com a vida sólida e familiar que construíra na Grã-Bretanha após se descobrir alguém de posses, decide partir em novas aventuras marítimas, evidenciando, mais uma vez, seu caráter inquieto e aventureiro.
O enriquecimento de Robinson após os anos que passou perdido no Caribe, representa, na narrativa do romance, uma espécie de prêmio por sua disciplina e por guardar os valores protestantes. Durante sua permanência na ilha, o ascetismo, a auto-disciplina e o trabalho árduo tipicamente calvinistas guiam seu padrão de comportamento. Crusoé acredita que seus infortúnios foram um castigo por sua desobediência ao destino que seu prudente pai lhe havia traçado. Aceitando que Deus usa nossas próprias ações para nos punir, demonstra acreditar na predestinação, de acordo com a tradição calvinista na Inglaterra. Robinson guarda o sétimo dia da semana, como o dia do Senhor, seguindo o imaginado calendário por ele elaborado. Adquire o hábito de pedir a bênção de Deus antes de comer e não pode suportar a ideia da nudez, mesmo estando sozinho na ilha; assim, cobre inteiramente seu corpo.
Na trilha da mesma tradição religiosa, escreve um diário no qual anota as coisas boas e as coisas más que lhe sucedem e que funciona para ele como um balanço espiritual. Também marca seus "lucros" e suas "perdas". Estas anotações são a prova de que a sobrevivência e o final enriquecimento de Crusoé se devem ao trabalho constante e à recusa da perda de tempo. Segundo Christopher Hill, no romance, o protestantismo tradicional está acompanhado por uma visão de moralidade nos negócios, na perspectiva do espírito do capitalismo de Max Weber3.
Evidenciando, entretanto, uma certa ambiguidade em suas perspectivas religiosas, Robinson não batiza Sexta-feira, ainda que o considere um cristão; não sabe o que responder a ele, quando esta pergunta por que Deus permitiu a existência do demônio. Além disso, enquanto estava na ilha longe do mundo comercial, foram o católico capitão português e o convento brasileiro de agostinianos que cuidaram de suas terras e rendas. Há uma perspectiva de tolerância religiosa, ao menos entre os cristãos, pois ele está bem confortável no Brasil, sob a ordem dos "papistas", e mantém boas relações com os espanhóis quando estes chegam à ilha.
Robinson Crusoé estava fortemente vinculado - e por isso sua novidade, no início do século XVIII - a uma série de valores que estavam se tornando caros em meio aos processos de transformação promovidos pelo capitalismo à época: o individualismo burguês, a iniciativa econômica dos setores médios da sociedade, o ideal de mobilidade social e o racionalismo. Da mesma forma, não há como desvencilhar essas premissas dos postulados do protestantismo de viés calvinista, marcado pelo ascetismo intramundano e pela valorização do trabalho como forma de aproximação do sagrado.
O romance de Daniel Defoe se articula também sobre um ideal de mundo, essencialmente, colonizador e transatlântico, elaborado a partir de um viés anglo-saxão e protestante. Se seu protagonista se tornou o protótipo do indivíduo burguês almejado pela modernidade, a ilha em que viveu foi transformada no espaço colonial por excelência, a ser moldado pela atividade econômica capitalista e convertido pelo cristianismo.
A dimensão transatlântica não se restringe, entretanto, à trama de Robinson Crusoé, mas constitui-se também na história da circulação do livro, de suas apropriações e de suas traduções. Tomado favoravelmente como modelo instrutivo desde século XVIII, também foi alvo de uma série de críticas ao longo dos últimos séculos por seu caráter colonialista e burguês. Nesse sentido, é preciso lançar luz sobre algumas dessas apropriações, em particular as leituras que recebeu no mundo atlântico.
Conforme ressaltado anteriormente, Robinson Crusoé conheceu um êxito editorial imediato após sua primeira edição, em 1719, na Inglaterra, tornando-se, já no século XVIII, um sucesso de vendas, impressões e adaptações. Em seu idioma original, conviveu não somente com a celebridade na Inglaterra, mas também se constituiu como um livro bastante lido em suas colônias do outro lado do Oceano Atlântico e, posteriormente, após o processo de independência em 1776, nos Estados Unidos da América. É interessante notar que, se antes da guerra de emancipação das Treze Colônias Robinson Crusoé ganhou duas edições em terras americanas, em 1757 e 1774, nas últimas duas décadas do século XVIII teve por volta de quarenta reimpressões no recém-emancipado país.
Parece importante destacar que, nos Estados Unidos, em particular no período entre a Independência e a Guerra de Secessão, Robinson Crusoé passou a comportar diversos significados, muitos dos quais reproduzidos, mesmo nos meios acadêmicos, ainda hoje. Ecoando uma ideia existente no quarto final do século XVIII, mas sem grandes reparos críticos, Russell L. Martin III afirma, por exemplo, transformando o romance de Daniel Defoe em síntese da trajetória de seu próprio país, que "Robinson Crusoé é o livro americano par execellence. Acima de tudo, é a história de um homem que desobedece seu pai inglês, constrói um império no Novo Mundo, lê sua Bíblia diariamente, e converte e conquista 'selvagens'"4.
Referência para diversos intelectuais e políticos norte-americanos, Robinson Crusoé foi apontado, por exemplo, como uma das bases para a escrita da célebre Autobiografia (1791), de Benjamin Franklin. Não se restringindo, entretanto, à cabeceira dos "grandes homens", conheceu também uma difusão entre um público mais amplo. De acordo com Thomson, a edição ilustrada publicada em 1835, pela Harpers & Brothers de Nova York, tornou-se um parâmetro central para a educação, em particular dos meninos, por meio da exaltação de valores vinculados, entre outras coisas, ao ideal do self-made-man. Em resenha laudatória a essa edição, um autor do relevo de Edgar Allan Poe a concebia como forma de instruir a juventude norte-americana a partir de um ideal vinculado a um individualismo heroico no alvorecer de uma era que marcava o início do expansionismo do país e a afirmação do Destino Manifesto5.
Consideradas essas abordagens, não estranha, por exemplo, o fato de que, em particular durante o século XIX, a história de Robinson Crusoé tenha encontrado ecos nas narrativas sobre a Conquista do Oeste e na mitologia construída nos Estados Unidos em torno da ideia de wilderness. O náufrago inglês era, assim como os "pioneiros", o indivíduo solitário que abandona sua família para construir um novo mundo a partir de seu isolamento em regiões supostamente "desertas", submetendo a natureza às suas vontades e impondo a civilização às "populações selvagens". Da mesma forma, não deixa de guardar paralelos também, mesmo que marcados por algumas grandes diferenças, em particular ideológicas, com a obra de um autor como Henry David Thoreau, que, assim como o protagonista de Defoe, abandona a vida em sociedade e tem que se reconstruir novo modo de vida em meio à natureza.
Além de sua presença nos Estados Unidos, chama também a atenção na história da circulação transatlântica de Robinson Crusoé o percurso de suas traduções e adaptações em outros idiomas. Note-se, por exemplo, que embora sua primeira transposição para o francês tenha se dado na cidade de Amsterdã, um ano após o advento da obra em inglês, sua publicação na França ocorreu somente em 1761. Ao longo do século XIX, foram realizadas outras traduções ao sul do Canal da Mancha, nem sempre necessariamente fieis ao original, mas, ao mesmo tempo, bastante difundidas e alvos de inúmeras reimpressões. No século XX, a despeito de uma única tradução relevante, a de Maurice Lachin para a editora Fayard, em 1931, predominaram, entre os franceses, as reedições resultantes da versão de Pétrus Borel, de 1836, considerada por muitos anos a mais próxima do texto de Defoe.
Na França, Robinson Crusoé encontrou no filósofo genebrino Jean-Jacques Rousseau um de seus principais defensores durante o Século das Luzes. Rousseau, partidário da ideia de que quanto mais próximo da natureza e menos corrompido pela civilização, melhor seria o homem, via nessa obra uma espécie de manual ideal para educação das novas gerações. Não por acaso, em seu projeto de instrução para os jovens, sintetizado no clássico Emílio ou Da Educação (1762), recomenda o romance de Daniel Defoe como o primeiro e, por um certo tempo, único livro a se fazer presente na biblioteca de seu discípulo Emílio. De acordo com Rousseau, "o meio mais seguro de elevar-se acima dos preconceitos e de ordenar seus julgamentos sobre as verdadeiras relações das coisas está em colocar-se no lugar de um homem isolado e tudo julgar como esse homem deve julgar ele próprio, em razão de sua utilidade"6.
A defesa de Rousseau em relação ao valor educativo de Robinson Crusoé inspirou diversos autores, como Feutry (1766) e Montreille (1767), a realizarem já no século XVIII adaptações dessa obra para um público mais jovem. Além deles, obteve também certa repercussão na França, a tradução realizada do alemão de uma versão do romance de Defoe feita pelo pedagogo germânico Joachin Heirich Campe, também um discípulo do autor de Emílio. Essas edições não deixaram de influenciar a forma como Robinson Crusoé foi lido ao sul do Canal da Mancha ao longo dos séculos XIX e XX: em geral, a partir do filtro das adaptações e versões resumidas voltadas para um público infanto-juvenil.
Passando à Península Ibérica, em Portugal, a primeira edição do romance de Defoe no vernáculo veio à luz entre 1785 e 1786, em quatro volumes vertidos não do inglês, mas do francês por Henrique Leitão de Souza Mascarenhas. No mundo luso-brasileiro, em particular entre as últimas décadas do século XVIII e as primeiras do XIX, Robinson Crusoé encontrou uma intensa recepção, circulando de forma bastante recorrente entre Portugal e Brasil.
Na Espanha, a primeira publicação de Robinson Crusoé em castelhano, em uma versão voltada para o público infantil, como deixa explícito o título El robinsoncito o Aventuras de Robinson Crusoé, dispuestas para diversión de los niños, ocorreu em 1826, na cidade de Paris. Curioso notar que grande parte das primeiras edições da obra em língua espanhola tem como origem editoras da capital francesa. As primeiras traduções da obra na Espanha só vieram à luz em Madri na década de 1840, em geral também como adaptações para um público infanto-juvenil. Chama a atenção o fato de que essas edições não estão tão distantes da primeira impressão do romance na América Latina, pela Imprenta de Ignácio Cumplido, na Cidade do México, em 1846. Além disso, também vale a pena notar que a primeira tradução relevante de Robinson Crusoé produzida na Espanha, a de José Alegret de Mesa, a partir de uma edição francesa, é posterior à mexicana, datando de 1849.
Mesmo que não pudesse ser lido nas línguas ibéricas, Robinson Crusoé, particularmente em suas versões francesas foi apropriado também na América Hispânica. Um personagem como o professor e teórico da educação caraquenho Simón Rodriguez (1769-1854), por exemplo, conhecido na história hispano-americana como o mestre do "Libertador" Simón Bolívar, tinha no romance de Daniel Defoe, em grande medida pela via da leitura do Emílio, de Rousseau, uma de suas grandes inspirações. Não por acaso, durante sua permanência fora da Venezuela, entre 1797 e 1823, quando viveu exilado por questões políticas na Jamaica, nos Estados Unidos e em diversos países na Europa, Rodriguez adotou o pseudônimo Samuel Robinson em uma clara homenagem ao célebre náufrago inglês.
Além de Rodriguez, outro importante leitor de Robinson Crusoé na América Hispânica, foi Domingo Faustino Sarmiento. O intelectual e político argentino relata, por exemplo, em sua célebre autobiografia, Recuerdos de província (1850), que um dos livros mais marcantes em sua educação teria sido exatamente Robinson Crusoé. A respeito de sua infância, Sarmiento afirmava lembrar de um professor que contara, durante seu processo de alfabetização, "a preciosa história de Robinson". E concluía: "eu a repetia, três anos depois, íntegra, sem escapar uma cena, sem esquecer nenhuma"7. Em uma Memória, escrita para a Facultad de Humanidades de Santiago do Chile, em 1843, Sarmiento colocou, não por acaso, Robinson Crusoé na primeira posição entre "os livros adequados para proporcionar leituras agradáveis e instrutivas à juventude"8.
No Brasil, a primeira adaptação da obra de Daniel Defoe ocorreu apenas em fins do século XIX, com a versão do professor do Colégio Pedro II, Carlos Jansen (1829-1889). Alemão, nascido em Colônia, Jansen foi o responsável pela edição de diversos textos "redigidos para a mocidade", entre os quais, Robinson Crusoé publicado em 1885 pela Laemmert & Cia., com prefácio de Sílvio Romero.
A despeito de seu caráter precursor em território brasileiro, a obra de Jansen acabou sendo eclipsada por aquela que ainda hoje é a mais famosa versão da história do náufrago inglês no país: a de Monteiro Lobato, publicada pela Companhia Editora Nacional em 1931. Autor já consagrado desde o início do século XX, Lobato demonstrava, já em 1916, seu interesse em escrever literatura para crianças. Sua referência para a realização dessa tarefa era precisamente Robinson Crusoé: "Ando com idéias de entrar nesse caminho: livro para crianças. De escrever para marmanjos já me enjoei. Bichos sem graça. Mas para as crianças, um livro é todo um mundo. Lembro-me como vivi dentro do Robinson Crusoe do Laemmert. Ainda acabo fazendo livros onde nossas crianças possam morar. Não ler e jogar fora; sim morar, como morei no Robinson e n'Os Filhos do Capitão Grant [de Julio Verne]"9.
Tomado, portanto, como paradigma de livro para crianças e jovens por diversos autores e em diversas circunstâncias ao redor do mundo atlântico, Robinson Crusoé foi despido nesse processo de algumas de suas faces mais complexas, gerando apenas as idealizações alimentadas por seus admiradores.
Para além das importantes análises acadêmicas sobre a obra realizadas na segunda metade do século XX por historiadores e críticos literários como Ian Watt, Christopher Hill e Peter Hulme, Robinson Crusoé também produziu leituras críticas na chave da ficção, que deslocam a perspectiva para outros aspectos do romance, em particular as peculiaridades da relação entre Robinson Crusoé e Sexta-feira. Vejam-se, por exemplo, duas importantes obras literárias publicadas na segunda metade do século XX como Sexta-feira ou os limbos do Pacífico (1964), do francês Michel Tournier, e Foe (1987), do sul-africano J. M. Coetzee. Ambas, mesmo que partindo de lugares e perspectivas bastante diferentes, subverteram as premissas centrais da narrativa original inglesa do século XVIII, tecendo duras críticas à colonização e ao etnocentrismo dos europeus.
Merecem ser lembradas, igualmente, as inúmeras adaptações, apropriações e subversões que as figuras de Robinson Crusoé e Sexta-feira vem sofrendo, particularmente nos meios audiovisuais, desde o início do século XX. Uma rápida busca no site IMDb (Internet Movie Database), apresenta dezenas de resultados entre longas-metragem, curtas-metragem, animações, filmes para televisão e episódios de séries.
Entre as adaptações cinematográficas, há tanto obras de diretores importantes da história do cinema como George Méliès (1903) e Luis Buñuel (1953), como versões menos convencionais da trama como, por exemplo, A ilha da bagunça (1951), estrelada pelos comendiantes Stan Laurel e Oliver Hardy, conhecidos no Brasil como "O Gordo e o Magro"; A erotic adventures of Robinson Crusoe (1975), filme ítalo-americano de teor erótico (1975); e Robinson Crusoé em Marte (1964), que localiza a trama de Robinson Crusoé e Sexta-feira no planeta vermelho. Há, inclusive, uma versão brasileira da história do náufrago inglês: As aventuras de Robinson Crusoé (1978), dirigido por Mozael Silveira e produzido por J. B. Tanko. Com ares de chanchada tardia, a película tem como protagonistas dois comediantes históricos do audiovisual no país: Costinha como Robinson Crusoé e Grande Otelo como Sexta-feira. Além desses, outros filmes, mesmo não se colocando diretamente como adaptações do romance de Daniel Defoe, são claramente inspirados no universo robinsoniano. Talvez o exemplo mais paradigmático, nesse sentido, seja o filme norte-americano O náufrago (2000), de Robert Zemeckis, protagonizado por Tom Hanks.
As releituras a respeito das representações de Robinson Crusoé e Sexta-feira guardam uma longa trajetória. Nessa história, não somente os textos, mas também as imagens, contribuíram para a construção de narrativas sobre os lugares desses dois personagens em um quadro mais amplo marcado por projetos coloniais e olhares imperiais.
Apresentados aspectos sobre a circulação, as adaptações e as subversões que Robinson Crusoé recebeu no mundo atlântico, é preciso destacar, como, a partir das relações construídas no romance de Daniel Defoe, os personagens do náufrago inglês Robinson Crusoé e do indígena Sexta-feira tornaram-se paradigmáticas para a elaboração de representações acerca da dinâmica dos encontros humanos assimétricos protagonizados por representantes do Velho e do Novo Mundo.
Em primeiro lugar, parece importante ressaltar que o encontro entre Robinson Crusoé e Sexta-feira se dá quando o náufrago inglês salva a vida do nativo americano que seria comido em um festim canibal. Dentro da lógica do romance, a resposta esperada do indígena é a de uma pessoa eternamente grata. Como foi resgatado pela utilização de uma arma de fogo, produto da técnica moderna, Sexta-feira também se curva diante da superioridade europeia e aceita seu lugar subordinado. O resultado apresentado por Defoe é, nessa sequência, o de uma relação harmoniosa, na qual as duas partes conhecem seus lugares e não os colocam em dúvida.
A submissão de Sexta-feira é relatada detalhadamente no romance. Primeiramente, Robinson, mesmo não considerando o indígena digno de batismo, o nomeia fazendo referência ao dia em que este chegou à ilha em seu calendário imaginário. Crusoé ensina-lhe a língua inglesa, porém Sexta-feira jamais será capaz de aprendê-la corretamente, falando de forma sempre trôpega. Sintomaticamente, a primeira palavra ensinada e aprendida nesse processo é Master (amo e Senhor). Robinson fornece roupas para vestir sua nudez e coloca-o para dormir do lado de fora de sua cabana, mais precisamente na porta. A roupa, exterioridade palpável da condição de civilizado, faz do náufrago inglês um ser diferenciado do bárbaro indígena nu. O ato de vestir Sexta-feira tem um valor simbólico, pois representa o primeiro passo no seu ritual de passagem da selvageria para a civilização.
Robinson ensina Sexta-feira a plantar e a criar cabras. Com argumentos racionais, explica-lhe que deve abandonar o costume de comer carne humana, advertência também aceita por Sexta-feira. No tratamento dispensado ao caribenho não se coloca a questão da individualidade do "outro". Está fora do universo cultural de Robinson/Defoe perguntar algo sobre as crenças, a língua, os hábitos e os costumes anteriores do indígena. Sua vida anterior, na qual deveria ter um nome, é apagada. Sua real existência se inicia no dia do encontro com o homem branco. O contato entre ambos estabelece o momento da origem da relação fazendo tábula rasa do passado individual e cultural do indígena.
O momento da chegada de Sexta-feira à ilha é significativo dessas representações sobre o convívio entre o europeu civilizado e o indígena submisso. Episódio sempre presente nas versões ilustradas do romance, essa cena funciona frequentemente como síntese das relações construídas entre esses dois personagens. Numa edição inglesa do século XVIII, por exemplo, Robinson, vestido com as peles de cabra, com uma arma ao ombro, outra apoiada no chão, e ar de herói vencedor, olha em direção a Sexta-feira, totalmente nu, estirado ao chão, beijando-lhe humildemente os pés. A culminância do ato de submissão/dominação está representada pela postura de Sexta-feira que coloca o pé de Robinson sobre sua cabeça.
Quase ao final da história, chega à ilha um grupo de espanhóis prisioneiros dos índios que se preparam para executá-los. Neste preciso episódio, acontece a perfeita conversão de Sexta-feira à civilização com sua decidida escolha pelos valores ingleses. Robinson permite que Sexta-feira empunhe uma arma de fogo - suprema prova de confiança do inglês - para ajudá-lo a salvar os espanhóis, matando os indígenas caribenhos. Ao atirar contra seus "irmãos selvagens", Sexta-feira demonstra sua adesão completa à ordem do colonizador branco. Por sua importância, o episódio aparece constantemente nas versões ilustradas do romance. Na gravura da edição inglesa de 1885, Robinson ampara o espanhol que, como civilizado europeu, veste roupas em contraste com os indígenas nus. Sexta-feira, vestido com as mesmas roupas de peles de cabra está de costas atirando para matar os índios. Como afirma Peter Hulme, o crânio meio enterrado colocado à frente da ilustração funciona como memento anthropophagi, para lembrar porque essas batalhas precisavam ser travadas. Na edição francesa de 1837, lá está a mesma composição da cena; enquanto Robinson conforta um espanhol ferido, Sexta-feira se encarrega de atirar nos "inimigos", os indígenas.
Relevante notar que, em muitas das narrativas sobre a saga de Robinson Crusoé e Sexta-feira, ocorre uma espécie de esquecimento do lugar onde a trama se desenrola: o mar do Caribe. Este não-lugar, aliado à possibilidade da suspensão do tempo em que a história acontece, contribuiu para a proliferação de reapropriações do tema. Desse modo, a narrativa foi ganhando uma roupagem mítica - fora do tempo e do espaço. Essa dimensão indica, em determinadas representações, as metamorfoses pelas quais Sexta-feira foi passando ao longo do tempo.
Nas edições do século XVIII, ele é representado como um indígena nos seus traços fisionômicos e na cor de sua pele. Entretanto, há uma fundamental transformação do "selvagem" índio em "selvagem" negro africano, a partir de algumas edições do século XIX. Essa alteração nos contornos da figura modelar do colonizado vai se processando de maneira paulatina. Na edição francesa de 1837, a pele de Sexta-feira assume um tom mais escuro a ponto de poder ser confundido com um africano. Uma transformação inequívoca pode ser notada, entretanto, em outra edição francesa do começo do século XX: Sexta-feira foi plenamente transfigurado. Diante de um Robinson cuja vestimenta consiste em "calças" de pele de cabra e casaco próprio de uniforme militar europeu, ajoelha-se um negro africano semi-nu, estendendo os braços, com as palmas das mãos voltadas para cima, numa atitude de submissão. Desse modo, a ilustração carrega os traços de uma visão colonialista num tempo em que a Europa produzia justificativas para a intervenção e domínio sobre a África.
Na história das publicações de Robinson Crusoé voltadas para um público infanto-juvenil no Brasil, também podem ser percebidas essas mutações nas representações de Sexta-feira. Nas ilustrações e nas descrições presentes nas duas primeiras adaptações do romance de Daniel Defoe no país, a de Carlos Jansen, de 1885, e a de Monteiro Lobato, de 1931, Sexta-feira é apresentado como um indígena que, mesmo que com algo de estereotipado, mantém-se como no texto original, um nativo das Américas. Entretanto, o mesmo não ocorre em adaptações posteriores. Veja-se, por exemplo, a edição brasileira da Editora Itatiaia de 1964, que integra a Coleção Clássicos da Juventude. Na capa, está Sexta-feira pintado como um negro africano com lábios grossos e cabelos crespos; eles estão atravessados por ossinhos, associando - de forma equivocada - a África ao canibalismo. Da mesma forma, a versão da Editora Globo, pertencente à Coleção Grandes Clássicos Juvenis, publicada em 1995, traduzida e adaptada por Ana Maria Machado, a partir de uma publicação originalmente italiana, traz em todas as suas ilustrações um Sexta-feira marcadamente africano. Na capa, está quase ajoelhado, com olhar de gratidão, diante de um benevolente Robinson.
As apropriações e adaptações da história original de Robinson Crusoé e Sexta-feira carregam fortes significados culturais e políticos, que se renovam até o presente. A história do inglês náufrago no Caribe oferece elementos que permitem releituras e contribuem para sutilmente defender a lógica da superioridade da "civilização" sobre a "barbárie" e justificar o encontro assimétrico entre colonizador e colonizado, em qualquer época da História. Na história das edições de Robinson Crusoé, o olhar imperial frequentemente se manifesta naturalizando essa relação e ocultando sua violência.
Robinson Crusoé se apresenta, portanto, como um romance portador de muitos significados. Desde sua trama, repleta de discussões relevantes em termos econômicos, morais e filosóficos até a própria história de suas edições, apropriações e traduções. Por todas essas referências, é preciso novamente historicizar Robinson Crusoé. Despi-lo de seu caráter mítico, atemporal e deslocalizado e inseri-lo nas transformações promovidas pelo capitalismo comercial e pelo colonialismo europeu no Novo Mundo na Época Moderna. É necessário entendê-lo, inicialmente, sob uma perspectiva caribenha, mas também posicioná-lo dentro de uma lógica transatlântica, com todas as implicações resultantes desse movimento: evidenciando a circulação, as transformações e as clivagens, mas também as assimetrias e as formas de dominação explicitadas não somente pelo romance original, mas também por todos aqueles que criaram textos e imagens inspirados pelo náufrago inventado por Daniel Defoe.
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